Marcela

Anjo da quanda
            
  Estava em um tempo que não era meu, em uma vida que não era minha , em um negócio que eu não queria.
    Sou eu.Sim, mas em outro mundo , distante das coisas que deveria estar fazendo, que me dariam prazer.
    No entanto , eu devo estar aqui mesmo, No lugar no ato , nesta forma,desta maneira.Por que ? Por que me meti em cosas para as quais não tinha sido chamada.
    Isso pode acontecer a qualquer um. Aconteceu comigo.
E agora ? Agora é aprender, fazer o que é preciso, Para voltar ao ponto do qual nunca deveria ter saído.
   Muitos estão assim como eu , comprando problemas que não precisam,enrolando-se com pessoas das quais podiam ter-se privado.Posso explicar melhor.Minha mania de dar palpites foi o que me precipitou nesta fase desagradável e da qual tanto desejo sair.
    Pensando bem, talvez tenha aprendido pela Terra, pelos tempos antigos quando o mundo era diferente. A vida era mais disciplinada , os homens mais temidos e as mulheres mais puras. Como eram bons aqueles tempos.
    Eu era mulher. E a mulher mais importante. E foi isso mesmo que eu pensei . Achei que era muito importante. E passei a meter-me na vida alheia. Vivi no Brasil. Filha de italianos, recebi educação esmera para a tal época.
Sabia escrever, ler, contar, tinhas haveres e família. Por isso convenci-me que era dona de tudo. Tomei posse.
  Meu Deus que loucura ! Mas como tudo era tão fácil ! Coisas tão naturais do filho aos irmãos , e passei aos conhecidos e amigos. Valha-me Deus !
    Não contente com esse parentesco , que por muito tempo deverei carregar, já que me tornei “dono” , ainda consegui mais.
   Na alta sociedade passei a cuidar da vida de todos. E, claro os mais fracos e dependentes passaram a obedecer minhas ordens.
   Cega eu fui. O orgulho e a vaidade são péssimos conselheiros.
Ai de mim ! Filhos tão burrinhos sem saber o que é certo. Quando vim ao mundo ,cercada de carinho e a atenção da família e dos amigos, do pranto dos meus conhecidos, da lamentação dos que me aprecia.
    Logo ao chegar ao céu , fui cercada por pessoas furiosas , exigentes , cobrando-me por vários conselhos que eu havia dado, com minha forma de ser acanhada , e tinha transtornado os planos de todos que ali estavam. Que luta , que sofrimento. Meu coração disparava, estava assustada sendo perseguida, acuada, e todos á minha volta pedindo , exigindo e suplicando.
   Ninguém pode imaginar o que passei. As lágrimas mas que chorei, o arrependimento e o medo que senti. Fiquei como louca.
    Sem contar que , os que tinham ficado na Terra, sem saberem como resolver os problemas da vida que eu sempre resolvia por eles, estavam desesperados.
    Foi depois de alguns anos que foram esquecendo de mim e puder sentir-me livre. Porém me sentindo incapacitada.
   Chorei e pedi um pouco de paz, pude repousar, onde novas energias recebi  e pude seguir adiante.
    Mas na verdade, como seguir em frente com tantos apelos na retaguarda ? Ninguém pode buscar progresso, sem reconstituir o que destruiu.É condição de consciência.
  Então fui forçada a tomar conhecimento de tomar minha ultima etapa na Terra. Tinha que rever o que tinha feito e reconhecer o que me atormentava nos problemas alheios  e por infelicidade.
       O que fazer ? Esclarecer,recolocar,trabalhar. Casais que o ciúme tinha separado, pais que tinham sido muito severos com seus filhos, mães que se recusaram a procriar, bens materiais colocados acima dos bens imperecíveis.
      Droga de orgulho. Lamentei a sorte. Fiquei brava. Chorei.Revoltei-me. Mas não teve jeito . Tive que assumir que eu realmente tinha que reconhecer  responsabilidades que não eram minhas.
E agora ?
      Não tinha jeito. Não quis renascer ainda. Pra quê? Pra fazer as mesmas burradas , é sou bem capaz de fazer as mesmas coisas.
 Vocês não sabem como isso é fácil.
      Então me sobrou apenas a hipótese de ser o “ anjo da guarda “ de todos eles. Porém um anjo da guarda com super-visão superior . Uma espécie de Office girl dos assistentes superiores, acompanhando a todos que um dia prejudiquei onde quer que se encontrem buscarei influenciá-los para o caminho certo.
    Isso até que é bonito, me alegra até certo ponto e não seria nada se eles não fossem tão diferentes do que precisam ser.
 O difícil é mostrar coisas que eles não desejam ver, e contar para eles  sobre os verdadeiros valores da vida, que eles fazem para continuar a ignorar.
   Triste mania minha. Mais a quem deve tudo isso senão a mim mesma ? A quem queixar-me senão ao meu próprio intimo?
 Vendo minhas várias dificuldades em conseguir meus objetivos , meus superiores me dizem que minha responsabilidade não chega ao máximo de torná-los perfeitos, nem de transforma-los  definitivamente. Apenas em ajudá-los um pouco e compreender.
 Quando me vejo, ao lado de pessoas com as quais não tenho nada a ver , fazendo as coisas mais estranhas possíveis, nos lugares mais sem interesse pra mim, por certo não posso deixar de refletir e lamentar as minhas interferências na vida alheia.
   Ah! Como eu gostaria de estar vivendo minha própria vida, de outra maneira, com outras pessoas , em outros lugares! Porem estou aqui. Fazer o que ?
      Aprender, eu aprendi . E muito
 Pensem em mim com carinho e lembrem- se na idiota que eu fui escravizando-me dos problemas dos outros, por muito tempo. Não sei quando poderei libertar-me.

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